A essa hore eu estaria deitado em alguma cama qualquer,
usando uma roupa qualquer e com qualquer um... Sim, pois sem minha casa
qualquer lugar é um lugar, e eu não estou em lugar algum. Seria mais uma noite
daquelas: outro cara, outra cama, outro preservativo, talvez ele me pagasse uma
bebida, talvez eu ganhasse 60 reais.
Talvez fosse bom, talvez machucasse – E ai eu diria: “para, por favor”,
ou “vai com calma”, e ele me bateria e faria ainda pior... Poderia ser gentil também e, nesse caso, eu
me consideraria sortudo, sei lá...
Nessa noite, talvez, eu chamasse um, dois, três, de amor. É,
eu diria que são belos, que são bons, que me comem direito, ou que são
apertadinho para comer, que são... Suculentos? É, talvez eu amasse
infinitamente infinitas pessoas, sentisse tantos calafrios que botasse um
casaco e, talvez, meu coração batesse tão forte que quebrasse minhas costelas.
É, talvez nessa noite eu amasse um milhão.
Fora de casa, todo amor é amor, não me importa a origem ou a
duração: todo amor é amor. Amar um
Paulo, um André, amar uma Natasha, uma Alexandra... Um Leonor que se sente melhor
como Michele, ou uma Michele prefere ser chamada de Willian. Sim, todo amor é
amor, dure uma hora, dure uma noite.
De joelhos pedindo por afeição, como um gato – Não, como um
cão. Sim, submisso e leal. Todo esse amor duraria por horas, horas suficientes
para eu lembrar que me esqueci de perguntar pelo nome. E ai, quando cada qual
tornar suas costas e seguir seu caminho, eu direi que amei alguém... Sim, “alguém”,
incógnito, sem nome. Talvez sem rosto (eu nunca sei como estou), e ai os
sentimentos vão ficar guardados naquele jarrinho pulsante.
E se esse amor durar por minutos a sensação será a mesma,
será de satisfação imediata. “Criança, você quer aprender sobre o mundo?”, e eu
diria “Não, eu só quero amar no presente. O presente que amo - eu te amo”.
Nesse caso é o mesmo ciclo: um novo amor, outra cama, outro
preservativo, talvez uma bebida, talvez 60 reais, talvez ele me bata – mas com
certeza, eu o amarei... Não o amarei, eu o amo, no presente, enquanto durar.
De tanto bater, com tanto amor, meu coração aprenderá a
bater rápido, e ele estará sempre pulsante e alegre, jovem, feito uma criança.
São tantos amores, um coração que guarda todo o amor do mundo. E então eu me
retiraria, voltaria para qualquer lugar e lá ficaria. Eu e o que amo, sempre no
presente, pulsando gloriosamente meu corpo, meu falo e meu coração. Nessa noite
talvez eu amasse pra sempre, nos infinito dos números, na duração da noite.